Foto: Ronaldo Correia de Brito

A Escola Porto Iracema das Artes — instituição da Secretaria da Cultura do Ceará (Secult) gerida pelo Instituto Dragão do Mar (IDM) — lança, nesta quarta-feira, 6 de outubro, o Programa de Criação Literária, “Transfabulações — experiências ficcionais”. A formação é uma experiência ampliada da oficina “Fábulas de Janeiro”, realizada tradicionalmente no começo do ano letivo, e conta com escritores renomados da literatura contemporânea brasileira. 

Com a oferta de 30 vagas, as inscrições para o processo seletivo iniciam hoje e seguem até o dia 13 deste mês AQUI.O percurso, totalmente online, tem início no dia 18 de outubro e finaliza em 21 de janeiro de 2022. As aulas serão ministradas sempre de 18h às 21h, de segunda a sexta.

Para participar, é preciso ter idade mínima de 18 anos e interesse pela escrita ficcional. O curso é destinado a residentes no Estado do Ceará, sendo 50% das vagas para moradores de municípios do interior do estado, incluindo Região Metropolitana, à exceção da capital. Reserva-se 50% do total de vagas para  pessoas autodeclaradas pretas, pardas, indígenas, quilombolas, com deficiência, travestis, transexuais e transgêneros. 

A seleção será feita com base nos dados dos formulários de inscrição, que incluem perguntas abertas. A lista de pessoas selecionadas será publicada no dia 15, sexta-feira, no site da Escola. 

Com curadoria do escritor Joca Terron, “Transfabulações – experiências ficcionais” propõe um trajeto formativo de 135 horas-aula com um quadro diverso de escritores contemporâneos, com inserção em gêneros como poesia, romance, teatro, biografia e jornalismo. Segundo Joca, o percurso irá trabalhar formas breves e fragmentadas de escrita, sem se prender aos gêneros literários tradicionais. “Transfabulações irá experimentar formas mestiças e livres que invistam numa estratégia da língua,  influenciada pelo pajubá, por James Joyce e tantos outros”, diz o escritor.

Entre os autores confirmados para ministrar o percurso estão Ronaldo Correia de Brito, Paulo Scott, Amara Moira e Stephanie Borges. A ideia é explorar as relações que os diferentes gêneros literários podem desenvolver. A partir da fórmula “dramaturgia + poesia + conto + romance = transfabulações ficcionais”, serão discutidas experiências com a língua brasileira e transfusões de gêneros literários. Concebido numa perspectiva de continuidade e de pluralidade, o Programa trará novas propostas e curadorias, ampliando o espaço de formação em escrita literária na escola. 

A Diretora de Formação do IDM/Porto Iracema das Artes, professora Bete Jaguaribe, acentua que o programa surge do amadurecimento das diversas experiências de escrita, desenvolvidas nos diversos programas da escola. “Trabalhamos nos últimos anos, com escrita dramatúrgica, no âmbito do teatro e do cinema. A escrita literária foi trabalhada no Fábulas de Janeiro, e a experiência gerou o Transfabulações, com uma estrutura pedagógica inédita, reunindo escritores extraordinários. A ideia é expandirmos o Programa de Criação Literária durante todo o ano de 2022″ – diz a professora.

Programa de Criação Literária – Transfabulações – Experiências Ficcionais

A formação inclui seis módulos que propõem múltiplos olhares para a criação literária. 

Módulo 1. Literatura desfazendo gêneros

Com Amara Moira 

On-line | 18 a 22 de outubro | De 18h às 21h 

Há quem afirme que a maior poesia da modernidade está nos romances ‘Ulysses”, de James Joyce, ou “As ondas”, de Virginia Woolf. Textos nascem sem distinção de gênero ou carteira de identidade, são o que são, e se metamorfoseiam em liberdade à medida em que são escritos, lidos e reescritos, ao léu da linguagem, frutos da mestiçagem das línguas, do pajubá, do portunhol, da lingua brasilis inventada pelo povo. Conversas e experimentos de mistura de gêneros literários e linguagens.

Sobre Amara Moira (Campinas, 1985)

É uma escritora feminista transexual e doutora em teoria literária pela Unicamp, primeira transexual a obter o título na universidade paulista. Autora de “E se eu fosse puta” e “Vidas trans”, entre outros livros.

Módulo  2. Tradução como procedimento de escrita

Com Julia Debasse 

On-line | 03, 04, 05, 08 e 09 de novembro | De 18h às 21h 

Traduzir de outras línguas é um exercício recomendável para quem quer escrever. Mas que tal traduzir de outras formas? “Traduzir” a dança, a arquitetura, a música, traduzir filmes e outras linguagens não textuais, pode ser um procedimento poderoso, assim como transcriar (na expressão de Haroldo de Campos) de línguas conhecidas e, principalmente, desconhecidas. Conversas e exercícios de tradução e transcriação.

Sobre Julia Debasse (Rio de Janeiro, 1985)

É artista visual e tradutora. Vive em Fortaleza. 

Módulo 3. Poesia e visualidade

Com Diego Vinhas 

On-line | 16 a 19 e 22 de novembro | De 18h às 21h 

É célebre o poema de William Carlos Williams citado acima, considerado o cume da escola objetivista da poesia norte-americana, marcada não pela objetividade, mas pela objetiva da câmera, o mecanismo que capta a imagem fotográfica. A visualidade é fundamental para a escrita, pois imagens narram. No entanto, como narrar a partir da representação da fotografias, das artes visuais e da poesia imagista? Conversas e exercícios de escrita tendo como ponto de partida a representação visual. 

Sobre Diego Vinhas (Fortaleza, 1980) 

É poeta e defensor público. Autor de “Primeiro as coisas morrem” (2004), “Nenhum nome onde morar” (2014) e “Corvos contra a noite” (2020), todos pela editora 7Letras.

Módulo 4. Imaginar a memória: antropologia e criação literária 

Com Stephanie Borges

On-line | 06 a 10 de dezembro | 18h às 21h 

Áreas do conhecimento como antropologia, etnografia e mitologia têm sido interlocutoras profícuas para a criação ficcional. Como a ficção pode contribuir para a construção daquilo que se perdeu, a partir das ruínas do passado?Ancestralidade, heranças borradas pelo tempo, reatamento de laços perdidos: quais os limites — éticos, mas também da verossimilhança — entre a recuperação da memória e as construções da imaginação? 

Sobre Stephanie Borges (Rio de Janeiro, 1984) 

É poeta, jornalista e tradutora de Claudia Rankine, bell hooks e Audre Lorde. Seu livro de estreia “Talvez precisemos de um nome para isso” ganhou o Prêmio Cepe Nacional de Literatura em 2018.

Módulo 5. É preciso falar, não é preciso calar

Com Ronaldo Correia de Brito

On-line | 10 a 14 de janeiro de 2022 | 18h às 21h 

A literatura precisa ser escrita? É claro que não, pois sua origem está na oralidade, nas conversas ao redor da fogueira das tribos nômades, na poesia e no teatro da Antiguidade. Nos dias atuais, a literatura pode surgir e ser difundida por meio de áudios do WhatsApp, do Instagram e do YouTube. Conversas e exercícios de escrita oral.

Ronaldo Correia de Brito (Saboeiro, Ceará, 1951) 

É escritor e médico radicado no Recife. Autor de, entre outros livros, “Faca” (2003), e do romance “Galilelia” (2008), ganhador do Prêmio São Paulo de Literatura 2009.

Módulo 6. Narrativas públicas

Com Marco Severo

On-line | 17 a 21 de janeiro de 2022 | 18h às 21h

O sujeito contemporâneo é atravessado por narrativas que não são propriamente literárias, como a política, a publicidade e as redes sociais, entre outras. Essa narrativa pública funciona permanentemente, através da imprensa, dos posts, propagandas e fake news, disseminando ficção disfarçada de verdade. Como escrever ficção na época da pós-verdade e das teorias da conspiração? 

Conversas e exercícios de escrita ficcional a partir de notícias, posts etc.

Marco Severo (Fortaleza, CE)

É professor formado em Letras/Inglês pela UFC. Publicou “Cada forma de ausência é o retrato de uma solidão” (2017), “Coisas que acontecem se você estiver vivo” (2018) e “Se eu te amasse, estas são as coisas que eu te diria” (2019), entre outros livros.

Ciclos de orientações de escrita

Os módulos são intercalados com ciclos de orientação para desenvolvimento de projetos individuais de criação de narrativas breves. Para essa etapa, a turma é dividida em dois grupos, que trabalharão a partir de um dos dois eixos de experimentação propostos pelos orientadores. 

Confira, abaixo, cada eixo, suas respectivas sinopses e orientadores convidados.

– Eixo 1: O espaço ou a personagem 

Orientador: Paulo Scott 

Encontros on-line: 25 a 29 de outubro, 29 e 30 de novembro e 1 a 3 de dezembro, 13 a 17 de dezembro | sempre de 18h às 21h

A realidade não costuma ser o que parece: onde nos encontramos nela, em qual espaço? A cidade se tornou onipresente nas formas ficcionais. Mas como ela pode ser representada, fiel, distorcida, concreta, virtual: qual é o lugar habitado pelos personagens? Mais: o entorno se transforma, à medida em que a cidade é destruída e reconstruída. O que acontece nos intervalos desse processo? Este eixo discute como o personagem ganha profundidade ao se tornar tridimensional, ou seja, tornando-se primeira pessoa do singular.

Através do espaço ou da personagem — desenvolvimento de narrativas breves em primeira pessoa que explorem o entorno e procurem compreender a cidade além dos ambientes mais óbvios e reconhecíveis. Orientação e desenvolvimento de trabalho de conclusão do curso. 

Sobre Paulo Scott (Porto Alegre, 1966) 

É autor de sete livros de poemas – dentre eles Mesmo sem dinheiro comprei um esqueite novo (Companhia das Letras, 2014) – e seis de prosa – dentre eles os romances Marrom e Amarelo e Habitante irreal (Alfaguara, 2019 e 2011). Seus trabalhos estão publicados em Portugal, Inglaterra, China, Estados Unidos, Alemanha, Croácia, México, França e Argentina.

– Eixo 2: O tempo ou a narração 

Orientadora: Ingrid Fagundez 

Encontros on-line: 25 a 29 de outubro, 29 e 30 de novembro e 1 a 3 de dezembro, 13 a 17 de dezembro | sempre de 18h às 21h

É fato conhecido que narrativas se desenvolvem no tempo, mas qual seria esse tempo, já que a física moderna afirma que existem muitos, infinitos tempos distintos? Linear, fragmentário, invertido, inconcluso: somos nós que existimos no tempo ou é o tempo que existe em nós? Será a ficção que existe no tempo ou é o tempo que existe na ficção? O tempo também é a duração, é a linha temporal que leva cada ser quadridimensional (como nós, seres humanos, mas também os personagens de ficção) do começo ao final da existência. Tal dimensão da existência só está ao nosso alcance por meio da ficção, somente através dela podemos voltar ou avançar no tempo para descrever nossos personagens — nós mesmos — no passado ou no futuro. 

Através do tempo ou da narração — desenvolvimento de narrativas breves em terceira pessoa que investiguem formas heterodoxas de narrar, explorando as múltiplas incorporações do tempo ou da duração, com linhas temporais interrompidas, fragmentárias e não lineares. Orientação e desenvolvimento de trabalho de conclusão do curso.

Sobre Ingrid Fagundez (Santana do Livramento, 1991) 

É formada em Jornalismo pela UFSC e pós-graduada em Biografia e Gêneros de Não Ficção pela University of East Anglia. Foi repórter da Folha de S. Paulo e do serviço brasileiro da BBC, escrevendo sobre política, cultura e comportamento. Atualmente é professora de não-ficção literária da pós-graduação em formação de escritores do Instituto Vera Cruz, em São Paulo.

SOBRE JOCA TERRON

Joca Reiners Terron fundou a editora Ciência do Acidente, pela qual publicou seu primeiro livro de poemas, Eletroencefalodrama (1998). A editora também lançou seu romance de estreia, Não Há Nada Lá (2001, reeditado pela Companhia das Letras em 2011), e seu segundo livro de poemas, Animal Anônimo (2002). Terron publicou os livros de relatos Hotel Hell (Livros do Mal, 2003), Curva de Rio Sujo (Planeta, 2003), e Sonho Interrompido por Guilhotina (Casa da Palavra, 2006), além de Guia de Ruas sem Saída, novela gráfica ilustrada por André Ducci (Edith, 2012). Em 2010, recebeu o Prêmio Machado de Assis da Biblioteca Nacional de melhor romance por Do Fundo do Poço se Vê a Lua (Companhia das Letras, 2010). Seus últimos romances são A Tristeza Extraordinária do Leopardo-das-Neves (Companhia das Letras, 2013), Noite Dentro da Noite (Companhia das Letras, 2017), A morte e o meteoro (Todavia, 2019) e O riso dos ratos (Todavia, 2021). Teve livros publicados em países como México, França, Itália, Portugal e Emirados Árabes.

SOBRE A ESCOLA

A Porto Iracema das Artes é a escola de formação e criação em artes do Governo do Estado do Ceará, instituição da Secretaria da Cultura (Secult) gerida pelo Instituto Dragão do Mar (IDM). Criada em 29 de agosto de 2013, há oito anos desenvolve processos formativos nas áreas de Música, Dança, Artes Visuais, Cinema e Teatro, com a oferta de Cursos Básicos e Técnicos, além de Laboratórios de Criação. Todas as ações oferecidas são gratuitas.

SERVIÇO

O quê: Escola Porto Iracema das Artes lança percurso inédito de escrita literária

Quando: De outubro de 2021 a janeiro de 2022, sempre de 18h às 21h 

Inscrições podem ser feitas neste LINK

Gratuito e online