Memórias, paisagem e tempo. A exposição “Perecível”, do artista visual Felipe Camilo, está aberta à visitação no Centro Cultural Banco do Nordeste, em Juazeiro do Norte. Imagens de prédios, corpos e lugares, reproduzidas em fotografias e em folhas secas, retratam a passagem do tempo, fazendo alusão ao quanto as coisas são perecíveis. Haicais, pequenos poemas escritos à mão nas folhas secas, ainda trazem relatos do preconceito e da violência sofridas constantemente pelos negros.

“Perecível” é resultado de uma pesquisa sobre a memória de Fortaleza em um bairro histórico da capital cearense: Jacarecanga. Um local que, como citou Felipe, foi deixado pelas elites e onde, entre casarões tombados e não tombados, se erguem condomínios e centros comerciais. O projeto é ainda resultado de uma diretriz na produção do artista, que, sentindo a chegada dos 30 anos, se dispôs a produzir um trabalho de observação e atravessamento da memória da coletividade por meio do álbum de família.

Com a técnica da “fitotipia”, imagens impressas usando a clorofila da própria planta que serve de suporte, marca uma passagem da minha atenção do registro para se ater à sua ruína, a ruína da própria imagem. “Éclea Bosi fala que a memória está menos para o sonho e mais para um trabalho. Nesse sentido, as ferramentas de trabalho da memória, as imagens, sentem também o efeito do tempo” completa.

Como relatou Felipe, o desejo para que as imagens no projeto atuassem como próteses no trabalho de memória dos que vissem, lhe fez retirar o excesso de informação textual ou visual dos rostos e paisagens retratadas. “Não quero lhes contar a história de alguém, nem a minha, mas partilhar uma experiência de intimidade e estranhamento com retratos de idosos e crianças, prédios em construção e em ruínas”, explica. Dessa maneira, a folha materializa a poética da brevidade e o vidro, também presente na exposição, tenta retardá-la e poli-la.

“No entanto, não me eximo de evidenciar que foi um corpo negro a reunir essas imagens e que ele está sempre em risco. O racismo marcou minha existência e marca minha produção. Meninos mortos por seguranças, homem asfixiado por policial, vereadora negra, mestre de capoeira assassinados, todos poderiam ser eu”, menciona, ao citar que a abertura da exposição ter ocorrido na semana que completou  um ano da morte de Marielle Franco lhe motivou a deixar essas manchetes em evidência. “Meu trabalho oscila entre o documental e o experimental e, por isso, é visível, na exposição, a atenção nas questões de formas, estéticas e também nas históricas/políticas”.

“Vá em frente, volte pra casa!”

O CCBNB também recebe a exposição  “Vá em frente, volte pra casa!”, do artista visual Júnior Pimenta. A exposição, que resultou de uma residência artística no espaço Hermes Artes Visuais, em São Paulo, aborda questões referentes à ideia de pertencimento de imigrantes.

Escrita pelo jornalista Joaquim Júnior, a matéria foi publicada originalmente na última edição do Jornal do Cariri, que saiu terça-feira (26).